Monday, January 01, 2007

náuseas políticas...

Estou num estado de extrema intimidação, para não dizer acanhamento ou vergonha mesmo. Vou almoçar e sinto vergonha de estar comendo enquanto milhões de pessoas reservam sua vida à miséria diante dos atos esquizofrênico do circo político. E isso não é poesia, pode ser um clichê -. mas se minha razão se tornou um lugar comum porque meus sentidos estariam fora do banal?! Recuso-me, porém, a ser conivente com o marketing da fome (ou da perversa benevolência brasileira) e não vou entrar em nenhuma Ong ou distribuir pão na rua. Não é o que me motiva, e tenho razões suficientes para sustentar meu não. Criticar por enquanto pode ser a minha ação, mas espero que não se limite a isso.

O povo que esqueceu o outro lado da coroa

No Brasil, a democracia ganhou sentidos diversos, dissonantes de tal forma que em muitos momentos ela nem mesmo pode ter esse nome. Um dos sentidos mais fortes é o do “extremo bem democrático” – a democracia que zela extremamente pelo bem comum, seja dos seus representantes, governantes e legisladores, seja dos seus representados, o povo. E as ações que não garantem esse bem comum, não são democráticas, são corruptas, erradas e totalmente execradas pelo senso comum. Aceitamos que existam e persistam atos não democráticos, mas não aceitamos que o sentido da palavra democracia seja repensado. Mas o fato é, ainda que democracia pregue o bem comum e a paz como fim resultante disso, ela ainda sim é uma instituição de confronto de forças, de embate, e acima de tudo de poder. A democracia pode ter perdido enquanto instituição o poder interino dos seus comandantes, mas ainda sim ela guarda o poder. E nisso não há diferença alguma de qualquer outra forma de governo, monárquico, fascista, militarista – O PODER EXISTE EM TODOS. Este é o ponto que o Brasil esqueceu - pensar o que é o poder, o que garante a coroa do poder, e como funciona as ações do povo com esse poder. Como foi dito nos limitamos a pensar que a coroa da democracia só garante o bem comum, ainda que isso seja apenas uma posição teórica. Aqui mora nosso maior erro, nossa limitação programada, nosso comodismo, nossa quietude, nossa falsa paz eterna. Esquecemos que a coroa que guarda o poder, também aponta o alvo do tiro, que quem governa é o que manda, mas é também o que morre. Aqueles que sobem as escadas do palácio, que adentram nos salões da câmera e do plenário apenas mandam, num poder desmedido nessa terra. A coroa aqui apenas guarda e zela.
Na revolução francesa, a revolução só foi concluída quando as cabeças de Maria Antonieta e Luís XVI rolaram soltas no chão, e isso aconteceu em todos os outros períodos da história, de diversas formas. Hoje não seria uma guilhotina, ou um revólver que deveria estar apontado para a coroa, mas algo deveria estar. Que sejam revoltas, ações populares, algo é necessário para estar apontado constantemente para o poder, no alvo da coroa. A verdadeira democracia apenas deve visar um bem comum, mas sua ação tem que se utilizar de ações opostas para chegar a esse bem. É um equilíbrio que simplesmente abdicamos, e que nossas instituições de poder trataram logo de dissolver. E enquanto mantermos essa ação de bem comum para todos e sempre, o poder não poderá ser controlado continuará déspota e tirano. Como disse Monstesquieu “É uma experiência eterna, que todo aquele que tem poder é levado a dele abusar; ele vai até onde encontra limites.” Precisamos recuperar nossas armas, ainda que sejam apenas vozes e braços, e trazer de volta o alvo da coroa.

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